A sensibilidade, aqui, já não é bem-vinda
Declarações e táticas de conquista não mais me comovem
Encerrei por aqui toda minha fragilidade.
Estou fadada a outro rumo: o do deserto seco
Que durante o dia nos sufoca
E a noite nos congela com silêncio.
Sinto-me vazia
Vazia como um pote guardado no armário
Um vazio que nada tem a ver com fome ou sede
Nada tem a ver com a falta de amar alguém
Nem a falta de ser amada.
Vazio solidificado, pesado e frio
Um peso morto que carrego na alma
Peso esse que nada tem a ver com tristeza
Nem com entes queridos que já partiram
É o peso da saturação, do descaso, do desamor ao próximo
Do desrespeito, da corrupção
Não me refiro, no momento, a corrupção política
Mas a corrupção dos sentimentos, dos sonhos, dos valores éticos
Da moralidade.
O que aqui já foi belo, hoje é mais feio que todas as coisas que já foram destruídas.
Não entendo mais de fraternidade, amabilidade.
Sou indiferente.
Não consigo, porque já perdi.
Não quero, porque já cansei.
Fui vencida pela fraqueza indômita.
Excesso de dúvida, covardia, medo?
Nunca tive esse problema.
Não faço nem alusão a esses assuntos
Fere os ouvidos de quem nada quer entender.
E em questão de entendimento, não há mais esforço
Ultrapasso a cada dia mais o limite da incompreensibilidade
E recuso-me a olhar para trás apenas para saber o que restou (ou o que não restou)
Vou deixando tudo ser levado pelo vento
O mesmo vento que apaga as pegadas na areia do deserto
Deserto esse que se assemelha ao vale da sombra, mas que nada tem a ver com a morte
Ninguém saberá que você passou por ali.
E quem o fez pensar que a morte lhe quer? A morte é boa.
Nada disso tem a ver com morte.
É tudo falta de vida.
Uma grande falta de vida.
Melissa Mendonça M. Braga
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