segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Solilóquio

Talvez eu diga sim. Talvez eu diga não. Possibilidades duvidosas e incertas. Eu nunca tive certeza disso. Nem você.
Talvez você se arrependa, talvez seja eu a me arrepender, embora seja pouco provável. Talvez tudo fique como está e nada seja resolvido. Talvez eu não faça nada. Talvez você faça mais do que deveria. Talvez eu seja esquecido. Talvez você seja importante. Talvez não sejamos ninguém.
Talvez você faça amigos. Talvez eu seja seu amigo. Talvez você nem me conheça. Talvez eu seja o único que te entenda. Talvez eu ame você. Talvez você não saiba. Talvez eu me force a te amar.
Talvez eu não conheça meus pais, às vezes. Talvez você conheça os seus. Talvez você tenha um cachorro. Talvez eu não note o meu, às vezes. Talvez você tenha tido uma infância feliz. Talvez eu também tenha tido, mas não tenha percebido.
Talvez, na minha cabeça, nada tenha razão. Talvez você enfatize-a demais. Talvez não. Talvez você queira muito alguma coisa e diga que não quer. Talvez eu perceba e o faça admitir. Talvez você não queira mesmo. Talvez quem queira seja eu.
Talvez você goste de matemática. Talvez eu esteja cheio de dívidas e cansado de contas. Talvez você não tenha tanto dinheiro. Talvez eu ambicione o dos outros. Talvez não.
Talvez você tenha filhos. Talvez eu não queira tê-los. Talvez você seja impaciente. Talvez eu até goste de crianças.
Talvez lhe falte tempo. Talvez eu viva mais do que gostaria. Talvez você me inveje, às vezes. Talvez eu não te entenda mais por isso.
Talvez você até me ame. Talvez eu sempre esteja com você. Talvez você não me queira pra sempre. Talvez eu tenha que conviver com você. Talvez você não goste. Talvez eu também não goste. Talvez você se irrite. Talvez eu não consiga me controlar. Talvez você fique insano. Talvez eu ria de você. Talvez você se mate e, quando se matar, talvez eu morra.


Melissa Mendonça M. Braga

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Você e o tempo

O tempo vai passando, os rumos vão mudando, as pessoas vão se distanciando e você vai se acostumando. Ou não.
Foram tantos os momentos bons, tantos os ruins, os que não significaram nada e os que até hoje significam tudo. Se hoje você é o que é, tenha certeza que é por tudo o que você passou e por tudo que deixou passar.
Seus amigos já não tão amigos às vezes lembram de te procurar, em sua maioria costumam esquecer, você é que tem que lembrar. Você procura e procura e um dia simplesmente cansa de tanto procurar por aquilo que você sabe que não mais irá voltar. Você não entende mais da vida daquela pessoa como um dia já soube entender, você não tem mais o que dizer, não quer mais se intrometer, aquela é uma vida que não cabe mais a você.
Assim como o tempo, as pessoas também passam, às vezes parece não ter fim, às vezes parece que foram apenas segundos, uns são agradáveis ao passar, como pétalas deixadas cuidadosamente sobre um altar, outros parecem fincar agulhas que criarão feridas que jamais irão cicatrizar. E você pensa. E pensa.
E a vida vai passando, lenta ou rapidamente, e você vai esquecendo de lembrar antes de esquecer. Não há nada novo demais. Não há nada velho demais. Tudo parece um presente expectado e prolongado. E dói. Dói muito. Fica vazio. Vazios não costumam fazer com que nos sintamos bem.
E a vida vai passando, lenta ou rapidamente, e você vai envolvendo os significados de todos em sua vida, cada riso, cada choro, cada briga, cada chegada e cada despedida. Despedidas são difíceis. Você se sente perdido. Você se sente obrigado a encontrar algo que lhe sustente. É difícil completar algo que nunca esteve completo, e você só percebe isso quando fica mais incompleto do que está agora. Você fica à deriva, e isso fica evidente.
Alguns se adaptam facilmente às mudanças, outros não. Uns acomodam-se do jeito menos complicado e se dão por satisfeitos, sem ao menos perguntar se o que está ali é, de fato, o que você realmente quer, se é o melhor pra você. Como já disse em algum lugar, o tempo não é o mesmo para todos, tente não se apegar às coisas ou pessoas que passarão rapidamente, embora não tenha como saber. Ou então se apegue às coisas e às pessoas, e aproveite-as ao máximo, faça todo o possível para que elas permaneçam o maior tempo que puderem, e quando elas se forem, chore muito e se lamente. Fique confuso e pergunte por que tudo parece ser desastroso apenas pra você. Sinta-se a exceção à todas as regras. Depois, sinta-se desinteressante e igual a todos.
E depois as pessoas te julgam e me julgam por ser complicado, por não ser objetivo e direto e firme. Mas como ser objetivo e direto e firme em mundo tão relativo, onde há variações em tudo o que se cria, em tudo o que se vê, onde há perspectivas de infinitos ângulos? Tudo depende de tudo. Nada é por si só. Pelo menos, não neste mundo. Você é o que é, não por uma escolha sua, nem por uma escolha dos outros, você é o que é por ser a única opção que lhe resta. O único só é único porque tudo se transforma, nada permanece igual. Se a opção é única, ela é exclusiva a você, o que o torna único, percebe? Não? Talvez eu também não perceba, mas o que importa? Somos o que somos, não somos por nós mesmos nem pelos outros, mas somos pelo tudo. E o tudo é pelo nada que nada é por si só.


Melissa Mendonça M. Braga